terça-feira, 16 de junho de 2009

Pedro Páramo

"Pensava em ti, Susana. Nas colinas verdes. Quando lançávamos papagaios na época do vento. Ouviamos lá em baixo o rumor vivo da aldeia enquanto estávamos por cima dele, no alto da colina, e, entretanto, fugia-nos o fio de cânhamo arrastado pelo vento. "Ajuda-me, Susana". E umas mãos suaves apertavam as nossas mãos. "Solta mais fio.""O ar fazia-nos rir; juntava os nossos olhares enquanto o fio corria entre os dedos atrás do vento, até se partir com um leve estalido como se tivesse sido despedaçado pelas asas de algum pássaro. E lá do alto, o pássaro de papel caia às piruetas, arrastando a sua cauda de cordel, perdendo-se no ventre da terra."Os teus lábios estavam molhados como se o orvalho, os houvesse beijado"."Lembrava-me de ti. De quando ali estavas, olhando-me com os teus olhos de água marinha."

"...Havia uma lua grande no meio do mundo. Os meus olhos perdiam-se, a olhar para ti. Os raios da lua filtravam-se sobre a tua cara. Não me cansava de ver essa aparição que tu eras. Suave, esfregada pela lua; a tua boca macia, húmida, irisada de estrelas; o teu corpo cada vez mais transparente na água da noite. Susana, Susana San Juan."

Juan Rulfo

Um comentário:

  1. Interessante o deslizar das linhas deixando cada vez mais clara a imagem que o autor quer nos passar. Depois passa-nos o sentimento abatido, a nostalgia combalida por sua senhorita.

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